Solilóquio 3
                                                                                                                                 18-06-2018


Como é meu chapa, vai ficar aí parado olhando para o nada sem saber o que escrever? Vai? Será preciso cutucar os teus miolos para iniciar mais um bate papo? Ora, faça-me o favor, se precisar poderei estimular o teu prazer de contestar fornecendo o tema para mais uma pendenga, basta aceitar o meu convite, Foi com essas palavras que me dei conta de estar falando comigo mesmo. Confesso que não estava nadinha disposto a discutir coisa nenhuma. As notícias estampadas nos jornais do dia haviam acabado com o meu bom humor e a minha vontade era a de me enfiar na cama e só acordar no dia da volta do meu País à normalidade. Estou cansado de ouvir falar em corrupção, violência, facções criminosas; ligar a televisão e ficar surdo com a gritaria e a absurda tática de elevar o volume sonoro para anunciar os produtos comerciais; de ter que assistir a carros de corrida capotando, pegando fogo, batendo em outros carros, como chamariz para a prova do próximo domingo.  Será que só a desgraça é do agrado dos telespectadores? O que falar então das novelas? Serão a exposição representada do que é a nossa sociedade? Modelo cultural a ser implantado? Ou projeto educacional para as novas gerações? Cansei dos chavões: “divisionismo”, “politicamente correto”, “direitos humanos”, estes direcionados só para os desumanos? Não, recuso-me a acompanhar a imprensa escrita, falada e vista a cores, onde o vermelho do sangue predomina. Estava a ruminar esses pensamentos quando o meu “Alter Ego” reaparece e sugere, Ué, então porque não escreves sobre aquilo que mais gostas? Por exemplo, a música brasileira, não é uma boa?  Não, não é uma boa, esse é um dos temas que mais me irritam, respondi, para espanto de mim mesmo, Posso saber o motivo dessa rebeldia? Perguntou-me o meu outro eu, Pelo que sei esse foi sempre o teu cavalo de batalha, continuou ele, É por isso mesmo, percebi que não conseguia me afinar pelo diapasão dos oportunistas de plantão, Não achas que estas exagerando? O que te levou a chegar a essa conclusão, Várias coisas intrometido, varias coisas. Muitas delas que, postas lado a lado, nos levam a concluir que a corrupção faz parte do inconsciente nacional, Não achas que estas exagerando, não? Não, não estou, procura ver se consegues enxergar o buraco negro da desonestidade existente na postura indecorosa de certos promotores de concertos e recitais, que só contratam interpretes que apresentem repertórios nos quais estejam presentes apenas obras já consideradas de “domínio público”, para não terem que pagar “direitos autorais”, ou, as condições impostas pelas gravadoras, que solicitam, por meio do intérprete, uma declaração por escrito, assinada pelo compositor, abrindo mão dos seu “direito autoral”, sem a qual a sua obra não será gravada. Basta comparar as ações e  mudar os nomes até agora usados e teremos formado a cadeia do que chamo de: “o buraco negro da desonestidade arraigada no inconsciente nacional”. Onde estiver escrito Promotores, leia Corruptores; ao invés de Interpretes imagine os Corrompidos e finalmente pense, “Quem foi prejudicado?”, a resposta por certo será o compositor e o público, ou seja, aqueles que produzem e consomem. É isso.

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