Solilóquio
4
DEI UM NÓ
NO CÉREBRO
Sérgio de Vasconcellos-Corrêa
De uns dias para cá, pensamentos
conflitantes começaram a povoar meu cérebro ocasionando dúvidas e incertezas às
quais não dei maior importância. Com o passar do tempo, porém, situações e
acontecimentos nunca vistos começaram a despertar minha atenção e a fazer parte
do meu cotidiano, provocando o surgimento de interrogações e suspeitas nunca
imaginadas. Como não creio na maldade de caso pensado, continuei a não dar
importância a tais notícias considerando-as leviandades inventadas por línguas
de trapo, descartando-as como inócuas invencionices e exageros destinados a
testar a credibilidade dos ingênuos. Aos poucos, no entanto, comecei a dar-me
conta da veracidade de alguns desses boatos e passei a ponderar sobre a
possibilidade deles existirem, mas, teimosamente, continuei me recusando a acreditar,
até ser abrupta e rudemente questionado pelo meu eu reflexivo, de modo tão incisivo
que fiquei mentalmente confuso, disse-me ele, Já pensaste no número de gerações
nascidas após a tua? Na sucessão de acontecimentos sociais e políticos havidos nesse
espaço de tempo? Nas alterações ocasionadas pelas guerras no modo de viver em sociedade,
nas invenções e no progresso tecnológico dia após dia cada vez mais assombroso?
Na sensação de rapidez com que o tempo passa e nos leva a compreender vagamente
a “teoria da relatividade”? Aquela que
explica ser o tempo e o espaço relativo ao ponto de vista do observador? Acorda
e cai na real, o hoje não é mais o ontem, Fiquei mentalmente mudo. Incapaz de
retrucar. Depois de esvaziar a mente e passar uma eternidade
sem pensar em coisa alguma – uma eternidade para mim, pois, na realidade foram apenas
alguns minutos. Pois é, a teoria da relatividade - um clarão iluminou o meu
cérebro como se houvessem acendido uma luz no fundo de uma caverna, levando-me
a não ter certeza de mais nada. Fiquei encasquetado. Como fui educado a
respeitar os estranhos e os mais velhos tratando-os por Senhora e Senhor - se
não o fizesse era logo repreendido - agora, quando banco o educado sou chamado
de velho caduco. Como aprendi a observar e a acatar as Leis, confesso que
fiquei assustado quando ouvi um Presidente da República dizer, publicamente, ”A
Lei? Ora a Lei”! Estou chegando à conclusão de que em breve me transformarei em
um anarcomental. Já não sei se o que aprendi foi CERTO ou ERRADO, pois, o que era
CERTO agora é ERRADO e o ERRADO, CERTO, certo? Tenho dúvidas sobre o BEM e o MAL.
Os bons eram respeitados e enaltecidos e os maus condenados. Agora os bons ganham
um belo caixão e os maus saem livres abanando nas mãos as armas dos crimes.
Essas constatações são mais preocupantes quando penso no dístico “a Justiça é cega” e olho para aquela
bela estatua de olhos vendados, será a representação de quem não quer ver o que
fazem em nome dela? Se for isso tenho medo de clamar por justiça e vir a ser
injustiçado. Sempre ouvi dizer que os comparsas dos criminosos são cúmplices, logo,
criminosos também, então pergunto: E aquele que defende os criminosos, sabendo que
eles o são, é o que? As coisas estão tão confusas que temos um “Ministério da
Educação e Cultura” para regulamentar as “Normas de Ensino”, ou seja, para
determinar as normas de como “ensinar a
fazer”, ao invés de aperfeiçoar as técnicas destinadas a “educar”, aquelas que levam o educando a
“aprender deduzindo”, e a CULTURA onde
fica? Bem a CULTURA . . . é só para dar mais “charme” ao Ministério, que deveria mudar o nome para “Ministério da Instrução sem Cultura”.
Digo isso porque os seus técnicos de ensino consideram algumas áreas como
ESSENCIAIS e outras, as verdadeiramente culturais, como SUPÉRFLUAS. É por essas
razões que afirmo estar a ponto de me transformar em um anarcomental. Cheguei a
essa conclusão após fazer meu autodiagnostico, quando me dei a questionar os “Dez
Mandamentos”, achando que eles são ERRADOS.
Meu medo no Brasil e a inversão de valores 😥
ResponderExcluir